Niemeyer, um centenário em plena forma
10/10/2007
Annie Gasnier
Correspondente no Rio de Janeiro
"Eu não estou nem aí com todas essas homenagens, e no dia do meu aniversário, ninguém me encontrará", assegura Oscar Niemeyer. O célebre arquiteto brasileiro prepara-se para comemorar o seu centésimo aniversário em 15 de dezembro. São muitas as homenagens organizadas por todo lugar para a ocasião. Nelas, ele comparece raramente, tendo como desculpa a sua convalescença, depois de uma fratura da bacia que o impede de andar normalmente.
Entretanto, Oscar Niemeyer colabora com paciência às solicitações dos jornalistas. Quaisquer que sejam as perguntas, ele impõe o seu discurso, bem ensaiado, que é quase sempre o mesmo. Ele afirma ter apenas uma única preocupação: colaborar com a melhoria da vida dos mais pobres. Este "comunista convicto" conservou a sua admiração por "uma União Soviética onde eu nunca vi nenhum miserável mendigar nas ruas" e pelos dirigentes cubano e venezuelano, Fidel Castro e Hugo Chávez.
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Arquiteto Oscar Niemeyer trabalha no projeto de Centro Cultural de Asturias, na Espanha |
O homem que auxiliou Lucio Costa, o idealizador de Brasília, a capital do Brasil, e que projetou mais de seiscentos edifícios em setenta anos de carreira, mantém a rotina de ir todas as manhãs ao seu escritório no Rio, com vista panorâmica para a praia de Copacabana. "É preciso viver a vida até o derradeiro momento, e depois, a gente pega o chapéu e desaparece", diz, descartando qualquer hipótese de se aposentar. Com a ajuda de seus colaboradores, ele honra as numerosas encomendas que recebe. "O seu traço com o lápis permanece firme, e a sua capacidade de criação me deixa espantado até hoje", comenta Jair Valera, o arquiteto que trabalha ao seu lado há mais de vinte e cinco anos.
No computador da oficina, é possível ver os seus três mais recentes projetos brasileiros: a catedral de Niterói, o observatório das dunas de Natal e a Praça do Povo de Brasília. Ele está trabalhando também na criação de um teatro musical na Itália e de um museu na Espanha, e ainda no planejamento de cidades satélites de Caracas, na Venezuela.
"A arquitetura autoriza a criação, e eu sempre tentei surpreender", explica este discípulo de Le Corbusier. Ele se empolga até hoje com a sua catedral de Brasília: "Pode-se gostar dela ou não, mas ela não se parece com nenhuma outra".
Ele dedica-se também a organizar toda semana debates filosóficos na sua agência. "Os estudantes de hoje são destinados a se tornarem especialistas. Eles são capazes de falar apenas da sua profissão", estima. "Contudo, é essencial que eles saibam decifrar o mundo que os cerca".
Oscar Niemeyer volta a mergulhar com prazer nas suas recordações do exílio na França, um país "onde ele deixou 16 edifícios". Ele se lembra dos seus encontros com André Malraux e Jean-Paul Sartre, e "das belas mulheres de saltos altos" andando nos Champs Elysées.
Este galanteador impenitente, cujas "curvas dos (seus) edifícios prestam uma homenagem à mulher", que ficou viúvo depois de um casamento que durou 73 anos, casou-se recentemente com a sua secretária, Vera Lucia Cabrera, quarenta anos mais nova.
Tradução: Jean-Yves de Neufville
Fonte: Folha Uol
http://noticias.uol.com.br/midiaglobal/lemonde/2007/10/10/ult580u2704.jhtm
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